Nesse livro, Os Guinness investigou a natureza da fé revolucionária ao contrastar as revoluções seculares, como a Revolução Francesa, com a revolução impulsionada pela fé do Israel antigo. Ao final, ele concluiu que a história do Êxodo revela uma visão de liberdade mais elevada, mais rica e mais profunda que já existiu.
O contraste que Guinness propõe entre "Paris" e "Sinai" revela uma abordagem que distingue dois tipos de revolução e suas diferentes perspectivas acerca da natureza, da igualdade e da liberdade humanas. Ao tornar o Êxodo a Carta Magna da humanidade, o autor propõe uma visão construtiva de uma sociedade moralmente responsável, de pessoas independentes e livres, e que celebram uma aliança umas com as outras, visando a justiça, a paz, a estabilidade e o bem comum da comunidade.
“FILHO, ESTAMOS COM PROBLEMAS. Chiang Kai-shek acabou de
abandonar a cidade. Estamos à mercê do Exército Vermelho”. As palavras do
meu pai no início de 1949 ficaram indelevelmente impressas na minha mente.
Eu tinha sete anos e meio de idade e morávamos em Nanquim (Nanjing), capital
de Kuomintang, que tinha o apoio do Ocidente e era também conhecido como
governo nacionalista da China. Havíamos conhecido o Generalíssimo e a Madame
Chiang, testemunhado o empacotamento apressado das coisas nas embaixadas
ocidentais e sentido a pressão do nó que ia lentamente apertando o entorno da
cidade. Logo, o Exército de Libertação Popular, liderado pelo impiedoso Lin Biao,
invadiria a cidade e sujeitaria a população atemorizada que os japoneses haviam
tratado com crueldade doze anos antes, durante o terrível Estupro de Nanquim.
A Guerra Civil Chinesa havia chegado ao fim. A República Popular da China
saíra vitoriosa. A quinta grande revolução moderna da história fora bem-sucedida.
O comunismo havia assumido o controle do país mais populoso do mundo. Os
alto-falantes foram instalados. Começaram os julgamentos. Houve execuções. O
medo e o terror dominavam. Amigos que nos conheciam bem não podiam mais
dizer que éramos conhecidos porque temiam por suas vidas, e a população local
que uma semana antes nos tinha parecido tão amigável urrava agora por nosso
sangue. “Morte aos demônios estrangeiros de olhos azuis!” era a saudação que
ouviríamos se nos aventurássemos a sair de casa. O horror da revolução chinesa
de Mao Tsé-tung, em que dezenas de milhões de seus compatriotas encontraram
seu fim, estava em andamento. Meu pai foi acusado e denunciado publicamente
A CARTA MAGNA DA HUMANIDADE
com falsas incriminações, e muitos amigos dos meus pais foram executados,
presos ou perseguidos. A violência do reino de terror era por si só aterrorizante,
mas, como sabiam os comunistas, o verdadeiro terror que mantinham sobre a
cidade era o terror implícito de quem seria o próximo ou do que viria a seguir.
Anos mais tarde, quando eu era um estudante em Oxford, conheci o reno-
mado filósofo judeu Isaiah Berlin na All Souls College. Curiosamente, ele havia
testemunhado a Revolução Russa de 1917 com a mesma idade com que eu tes-
temunhara a Revolução Chinesa. Havia uma lembrança que o horrorizara mais
do que as outras ao caminhar por São Petersburgo — na época, Petrogrado —
na companhia de sua governanta: o espetáculo de um policial sendo arrastado e
linchado por uma multidão. Isso o deixaria com horror a multidões e à violência
física pelo resto da vida.
Ao compararmos as lembranças dos dois garotinhos de sete anos que teste-
munharam parte das duas grandes revoluções do século 20, com três décadas de
diferença entre uma e outra (1917 e 1949), não houve discordâncias na mesa do
refeitório2
da All Souls College. Nós dois fôramos marcados por toda a vida pelo
marxismo do século 20, e certas conclusões eram inquestionáveis. Em primeiro
lugar, as revoluções comunistas, com sua repressão totalitária, foram um mal que
só tinha correspondência na história contemporânea com o nacional-socialismo de
Adolf Hitler (Stálin, Hitler e Mao estabeleceram o padrão da ditadura contem-
porânea); em segundo lugar, as duas revoluções anglófonas, ainda que diferentes,
pois a revolução inglesa foi malsucedida, e a norte-americana, vitoriosa, estavam
unidas na perspectiva peculiar da liberdade ordenada. Portanto, sempre se man-
tiveram firmes contra os totalitarismos revolucionários de direita e de esquerda,
conforme demonstraram em sua atuação durante a Segunda Guerra Mundial;
e, em terceiro lugar, o socialismo, independentemente de sua forma, era algo
impensável nos Estados Unidos, porque o americanismo e o sonho americano
eram ideias substitutas poderosas que tornavam supérfluo o apelo socialista.
Não é de espantar que, cinquenta anos depois, como admirador da grande
experiência americana de liberdade, eu ficasse perplexo ao testemunhar os eventos
recentes ocorridos nos Estados Unidos. Em briga de família, os intrometidos
Páginas |
336 |
Acabamento |
Brochura |
Categorias |
Política - Cosmovisão Cristã - História |
Edição |
2022 |
Formato |
16 x 23 cm |